segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Conveniência - Cecília Meireles

Desafio nº 12

Conveniência (by Selma Amaral)

A porta do elevador
abriu-se no andar esperado,
enquanto os olhos fugidios
escapavam.

A frase sussurrada,
a voz interrompida,
a pergunta sem resposta.
Os passos apressados 
que saíam na conveniência
da multidão que entrava.

Conveniência (Cecília Meireles)

Convém que o sonho tenha margens de nuvens rápidas
e os pássaros não se expliquem, e os velhos andem pelo sol,
e os amantes chorem, beijando-se, por algum infanticídio.

Convém tudo isso, e muito mais, e muito mais...
E por esse motivo aqui vou, como os papéis abertos
que caem das janelas dos sobrados, tontamente...

Depois das ruas, e dos trens, e dos navios,
encontrarei casualmente a sala que afinal buscava,
e o meu retrato, na parede, olhará para os olhos que levo.

E encolherei meu corpo nalguma cama dura e fria.
(Os grilos da infância estarão cantando dentro da erva...)
E eu pensarei: "Que bom! nem é preciso respirar!..."
(Meireles, Cecília. Viagem, Vaga Música. Rio de janeiro: Nova Fronteira, 1982. p.27)

Comentário: Estou no 12º desafio e a cada dia tenho me impressionado mais. Não sei se é o meu olhar, mas me parece que um tom de tristeza tem perpassado os poemas de Cecília. De alguma maneira, uma certa ideia de "parece que nunca dá certo" também está sempre presente nos textos de Selma, como foi possível ler aqui. Vejamos o que nos espera nas próximas páginas. Continue acompanhando, isso é bem conveniente para mim, ou para nós...


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