domingo, 10 de fevereiro de 2013

A última cantiga - Cecília Meireles

Desafio nº 11

A última cantiga (by Selma Amaral)

Ponto final.
Antes dele, a palavra derradeira
esparramada ficou.
O trabalho acabou.

Fechado o caderno
De antoçaões
Repleto
O segredo guardou...

Os amores, paixões,
As belezas e vozes
Contidas
na página fechada.

Ponto final.
Depois dele, nenhuma palavra
Lágrimas.
O poeta acabou.

A última cantiga (Cecília Meireles)

Num dia que não se adivinha,
meus olhos assim estarão:
e há de dizer-se: " Era a expressão
 que ela ultimamente tinha."

Sem que se mova a minha mão
nem se incline a minha cabeça
nem a minha boca estremeça,
- toda serei recordação.

Meus pensamentos sem tristeza
de novo se debruçarão
entre o acabado coração
e o horizonte da língua presa.

Tu, que foste a minha paixão,
virás a mim, pelo meu gosto
e de muito além do meu rosto
meus olhos te percorrerão.

Nem por distante ou distraído
escaparás à invocação
que, de amor e de mansidão,
te eleva o meu sonho perdido

Mas não verás tua existência
nesse mundo sem sol nem chão,
por onde se derramarão
os mares da minha incoerência.

Ainda que sendo tarde e em vão,
perguntarei por que motivo
tudo quanto eu quis de mais vivo
tinha por cima escrito: "Não".

E ondas seguidas de saudade,
sempre na tua direção,
caminharão, caminharão,
sem nenhuma finalidade.
(Meireles, Cecília. Viagem, Vaga Música. Rio de janeiro: Nova Fronteira, 1982. p.25-26)

Comentário: É triste. A despedida de alguém. Os dois poemas não se limitam a descrever apenas o que seria o último texto, mas tratam da vida... Reflexão. 


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