quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Frio em SAMPA!!!

Amigos.Ísso mesmo. Acho que posso chamar meus "visualizadores" de amigos, não é?
Começando novamente... Amigos, hoje está muito frio em São Paulo. Alguns dias atrás disse estar feliz com a chegada da primavera e estou, mas, quede calor?
Tudo bem, frio é legal, aconchegante, mas quero o sol, o amado sol.
Já sei vou escrever uma ode ao sol (mas queridos amigos, é uma ode feita com muita liberdade, ou seja, os versos não terão a mesma métrica, etc, etc, etc...). Talvez seja entusiástico!


Sol, oh Sol.
Que iluminas os rostos tristes
dos transeuntes cansados dessa via,

Via de vidas vazias,
Cansadas, Brilha, então                                                 
Sol! Não te escondas,
Empurra essas nuvens
 e vem logo.

Chega, chega perto
Vem quentinho, de mansinho,
mas vem e mais
Mais e mais
Esquenta esses corações,
Derrete-os.
Ah, não esquece o meu.

Amigos, por hoje é só!

Beijos.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

O que é uma crônica?

Estou lendo crônicas e sobre crônicas. Li várias. A de Rubem Braga, que transcrevo agora me encantou bastante. E o que são crônicas? Vai aí a definição:

Crônicas são escritos poéticos acerca daquelas coisas para as quais ninguém dá a mínima importância. Dar bom dia ao vizinho, dar um beijo no seu amor, escolher fruta na feira, ler um poema bobinho de um poeta bobinho e achar lindo, tentar consertar alguma coisa com a ferramenta errada, deixar queimar o arroz e depois não conseguir se livrar daquele cheiro que fica na panela toda, perceber que a roupa está do lado do avesso depois de já estar trabalhando há mais de duas horas e até ter entrado na sala do chefe para dar aquela "puxadinha de saco básica". Enfim, é tudo e não é nada, mas é bem legal.

Vai aí a crônica do Rubem Braga. Espero que gostem amigos ocultos...

Recado ao Senhor 903


“Vizinho –
Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal – devia ser meia-noite – e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a Lei e a Polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor: é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita; pois, como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003, me limito a Leste pelo 1005, a Oeste pelo 1001, ao Sul pelo Oceano Atlântico, ao Norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e embaixo pelo 903 – que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos; apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão; ao meu número) será convidado a se retirar às 21:45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois às 8:15 deve deixar o 783 pra tomar o 109 que o levará até o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda numerada; e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-lhe desculpas – e prometo silêncio.


...Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: ‘Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou’. E o outro respondesse: ‘Entra, vizinho e come de meu pão e bebe de meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela’.

E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz.”

BRAGA, Rubem. Recado ao senhor 903. In: O verão e as mulheres. 9. ed. Rio de Janeiro: Record, 1998. p.19-20-21. Citado em BIGNOTTO, C.; JAFFE, N. Crônica na sala de aula: material de apoio ao professor. 2. ed., São Paulo: Itaú Cultural, 2004. p. 78-79.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Maneira de amar - Carlos Drummond de Andrade

Esta é para comemorar a primavera!

Ouça Vivaldi... Sorria, Compre umas flores... Sorria e sorria, sorria, sorria.

Hoje não quero ser a Selma, ela mesma. Drummond vai falar por mim:

Maneira de amar

O jardineiro conversava com as flores, e elas se habituaram ao diálogo. Passava manhãs contando coisas a uma cravina ou escutando o que lhe confiava um gerânio. O girassol não ia muito com sua cara, ou porque não fosse homem bonito, ou porque os girassóis são orgulhosos de natureza.
Em vão o jardineiro tentava captar-lhe as graças, pois o girassol chegava a voltar-se contra a luz para não ver o rosto que lhe sorria. Era uma situação bastante embaraçosa, que as outras flores não comentavam.
Nunca, entretanto, o jardineiro deixou de regar o pé do girassol e de renovar-lhe a terra, na ocasião devida.
O dono do jardim achou que seu empregado perdia muito tempo parado diante dos canteiros, aparentemente não fazendo coisa alguma. E mandou-o embora, depois de assinar a carteira de trabalho.
Depois que o jardineiro saiu, as flores ficaram tristes  censuravam-se porque não tinham induzido o girassol a mudar de atitude. A mais triste de todas era o girassol, que não se conformava com a ausência do homem. “Você o tratava mal, agora está arrependido?” “Não”, respondeu, “estou triste porque agora não posso tratá-lo mal. É a minha maneira de amar, ele sabia disso, e gostava.”